com as mãos sujas de sangue


Não é um caso. Nem dois. Nem mil. As empresas despedem como se fosse coisa corriqueira, legalmente permitida, socialmente admirada, um acto de limpeza nas suas fileiras. Chegamos aos quarentas? Aos cinquentas? Somos lixo. Lixo caro, regiamente pago desde o tempo das vacas gordas, um terço, um quarto do que ganham outros europeus mas, ainda assim, um luxo para tanto lixo que somos nós. Agora há alternativas no novo mercado de escravos, estágios grátis e quem é que não gosta da palavra grátis, de pechinchas, de um "good deal"? Entra um rapaz ou rapariga, ansiosos por ganhar currículo por uns generosos quinhentos ou seiscentos euros, tantas vezes nada até, e sai um velhadas com vícios, manhoso e ranhoso porque já aprendeu que, salvo raras e honrosas excepções, patrão à portuguesa é sinónimo de proxeneta, de filho da puta, de artolas endinheirado, de tosco merceeiro sem desprimor para o verdadeiro. O problema português não são os trabalhadores, são os gestores. Que se estão nas tintas para as suas empresas, que se estão a cagar para investir, modernizar, o que importa são as férias nas Caraíbas, o Mercedes, o BMW, o Audi, a ostentação, a vivenda à cunha de móveis escolhidos a dedo pelo melhor decorador, o decorador da moda e o resto que se foda. Passos foi isto que incentivou. Passos foi a isto que nos levou. À morte lenta. Temos quarenta. Cinquenta anos. Somos lixo. Lixemo-nos. E, de joelhos como Passos ante Merkel, agradeçamos. Mais vale um Passos a governar do que mil santinhos no altar. Quem defende Passos e a sua obra deveria ter o mesmo destino: a agonia de uma morte lenta, onde se definham esperanças, sonhos, a vida. Onde se come o pão que Passos amassou.

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