onde pára a ética republicana?

Por Baptista-Bastos
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O diário i publicou, na terça-feira, a lista de cargos que o dr. António Vitorino ocupa em doze empresas. Diz: "Entre presidente de assembleias-gerais, líder de conselhos fiscais, vogal em administrações e sócio de um dos mais poderosos escritórios de advogados em Portugal, o homem (…) parece estar em todo o lado." Há anos, recebi um "e-mail" que dava nota das empresas nas quais o dr. Aguiar-Branco detinha funções. Era uma lista quase infindável, e permitia, tal como esta, do i, avaliar o trabalho insano de tão distintas personagens.

Pouco ou nada me interessam os ganhos destas figuras; mas diz-me respeito, isso sim, a categoria moral de quem exerce ou exerceu funções públicas. Vitorino começou muito à esquerda do PS. Foi da UEDS (União da Esquerda Democrática Socialista) e da Fraternidade Operária, por onde também passeou Eduardo Prado Coelho, por exemplo. As duas organizações tinham como animador Lopes Cardoso. Consta que, certo dia, o dr. Almeida Santos, prevenido da sagacidade e da inteligência de Vitorino, chamou-o e ter-lhe-ia dito: "Deixa-te lá dessas brincadeiras, e vem é para o PS, onde tens um futuro brilhante à tua frente." Daí ao Governo, ao escritório de advogados e a tudo o resto, foi um pulinho. Agora, à míngua de candidatos credíveis para Presidente da República, os socialistas lançaram o nome de tão augusta e nobre silhueta.

Conhecido entre os seus "camaradas" por "o génio da garrafa", devido aos atributos e acessórios de que dispõe, para se defender de qualquer enrascada, António Vitorino serve para todas as situações. E é, não o esqueçamos, um produto típico de um tempo em que a democracia tem sido amolgada pelos constantes desvios que as circunstâncias obrigam, e a ética republicana tapa os olhos de vergonha.

Claro que a lista de personalidades públicas e políticas que trepam a tais funções, desprezando o espírito de missão a que estão obrigadas, é enorme e toca a quase todos, sobretudo aos que militam nos partidos "do arco do poder." Não deixa de ser desacreditante para aqueles que possuem da democracia um conceito de atinada nobreza.

Claro que são estas (ou estes) e outras que têm desvirtuado a democracia e o projecto que lhe é intrínseco. O mal é endémico e estende-se a todos os sectores da actividade, dando azo a que muitas e muitas atrofias passem despercebidas ou negligenciadas. Como esta, publicada ontem no Correio da Manhã, referindo que a Empresa Portuguesa das Águas Livres cortou a água a 10.059 clientes, em 2014, e rescindiu contrato com 3.583 por falta de pagamento. O escândalo faz monta quando somos informados da multiplicação de funções (a maioria evidentemente pagas) de que os grandes figurões beneficiam.

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