o faltoso, a estátua e o paraíso com inferno dentro


Sabia que José António Cerejo, o mesmo que agora veio trazer a público, no jornal com este mesmo nome, a displicência de Pedro Passos Coelho em relação aos seus deveres contributivos é o mesmo jornalista que, há uns largos anos, também investigou a falta de pagamento de SISA por parte de António Vitorino?

Isto para que não digam que Cerejo está ao serviço dos malvados oposicionistas. E também para que não repitam que os políticos são todos iguais. É que Vitorino, e olhem que nem sequer vou lá muito à bola com a criatura de notável pequenez política, demitiu-se de imediato do governo de Guterres. Passos Coelho, antes pelo contrário, enfrenta os críticos atacando-os. E não se demite. Nem quando Portas foi irrevogável, quanto mais agora que ainda há tanto servicinho por fazer, tanto escravo por criar, tanto pobre por produzir, tanta empresa por privatizar, tanto empregado público por despedir, tantos impostos por aumentar, tanho dinheiro a dar a ganhar aos grandes deste mundo.

Claro que, fosse este outro país, Passos não tinha que se demitir de livre e espontânea vontade. Já tinha sido despedido por obra e graça do presidente da República. Mas Cavaco mantém-se calado, firme e hirto no seu claustro de marfim. Um totem. Um espantalho. Um monumento fúnebre. Uma estatueta de igreja. Uma figura de cera a espalhar cerume e azedume pelo palácio do nosso desencanto, uma espécie de Versalhes menor, ao jeito de quem o ocupa.

Lá fora, e os exemplos são múltiplos, governantes houve que abandonaram os cargos por faltas menores do que esta. 

Mas Portugal é um paraíso com inferno dentro.

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