a vitória da coragem e o grito de revolta

Por Baptista-Bastos
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Acerca da impressionante vitória do Syriza e do projecto que o envolve, o dr. Passos Coelho proferiu uma declaração pueril, que o define, ao mesmo tempo que indica o que o atemoriza. "É coisa de crianças", disse, numa frase mais mal enjorcada do que esta. Não é oportuno, neste momento, ajuizar da estratégia do líder do partido; porém, adivinha-se que o homem está disposto a enfrentar a borrasca, com a aliança estabelecida e, porventura, com outras mais.

A assunção de um novo paradigma não se destina, somente, a combater a "austeridade." O Syriza recusa este "rotativismo", que dura há décadas sebosas, entre "socialistas" e "sociais-democratas." Em Portugal, a situação é escandalosa. Nem o PS alguma vez foi "socialista", nem o PSD "social-democrata." Os dois partidos têm sido uma mixirufada, com entendimentos espúrios, que liquefazem a sua essência, qualquer que ela seja e signifique. Para garantir não se sabe o quê, o PS chegou a conubiar-se com o CDS, convém ter a memória viva. Talvez, mas não é certo, o António Costa dê a volta ao texto e restitua o PS à sua essência primordial, quando os seus militantes gritavam na rua "Partido Socialista, Partido Marxista." Não chegamos a tanto, mas acaso António Costa seja mais contundente e assertivo do que o anterior secretário-geral... A verdade, seja ela qual for, manifesta-se, no partido e fora dele, uma onda de entusiasmo, que aumenta as responsabilidades do secretário-geral.

A verdade é que a Europa dos povos está fatigada das aldrabices, dos jogos malabares, da ganância desenfreada da "alternância" sem "alternativa." E, também, da roda-viva reverencial que os chefes de Estado e de governo europeus fazem em torno da medonha Angela Merkel, que se comporta como dona disto tudo. O Syriza, entre outras coisas, veio provar que não é reverencial, independentemente do ódio histórico dos gregos pelos alemães. Durante a Segunda Grande Guerra, os nazis ocuparam, com brutalidade inaudita, o nobre país, roubaram, violaram, depredaram, fuzilaram os patriotas resistentes, em especial comunistas. A resistência grega foi uma página de coragem e de grandeza que nobilita a Europa. E quando Alexis Tsipras, líder do partido e primeiro-ministro grego, depôs um ramo de flores no túmulo dos resistentes comunistas, o acto possuiu uma dimensão simbólica.

Não desejo comentar as frases obscenas com que o PSD acolheu a chegada do Syriza ao Parlamento, uma das quais, "Ali Baba e os 40 ladrões", constitui um vómito, engolido por quem o proferiu, mas fornece a medida do pânico que grassa naquelas hostes, e do receio de que a força se pegue.

Um pouco por toda a Europa dos mais fracos começam a surgir movimentos desta natureza, que se opõem à destruição da democracia pelos partidos "tradicionais", cuja função tem sido a de enriquecer ou atribuir bons empregos e lugares aos seus mais dedicados prosélitos. Não tenhamos dúvidas de que as coisas não podem continuar nesta pouca-vergonha.

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