para comprar caramelos


Dizem por aí, as luminárias do costume, que apesar das ligações perigosas que associam Miguel Macedo à maior parte dos implicados no caso dos Vistos Gold, essa venda airosa da cidadania não portuguesa mas europeia, que Portugal é apenas uma porta dos fundos de oportuna serventia, o ex-ministro é tão inocente como um petiz de cueiros.

Como qualquer pessoa não é culpada de nada até prova em contrário, vou acreditar que é verdade, que Macedo não soube escolher nem os amigos nem os conhecidos, que é mau avaliador do carácter de quem escolhe para rodeá-lo na vida e nos negócios, enfim, que é um ingénuo, uma alma crédula, um ser bondoso que não enxerga as intenções malignas de quem quer que seja, desde que esse quem quer que seja não faça parte da vil oposição ao seu partido.

Há no entanto um pormenor, um pequeno pormenor noticiado ontem pela RTP, que me dá que pensar. E por isso pergunto, porque perguntar não ofende e muito menos dá direito a processo penal: por que raio é que Miguel Macedo foi a Ayamonte conferenciar com um dos agora detidos, ao que foi dito - alto e bom som - para não ser apanhado nas escutas?

A Tecnoforma, os submarinos, o BPN e tantos outros casos estão a desaparecer das páginas dos jornais e a cair no esquecimento. O mesmo vai acontecer com esta Operação Labirinto. E a pergunta, claro, ficará sem resposta.

Vamos assumir que Macedo foi a Ayamonte, tão simplesmente, para comprar caramelos na melhor das companhias. E dele restará a memória, para os vindouros, de um homem recto, que teve o nobre gesto de se demitir, de se sacrificar sem culpas no cartório nem pecadilhos a pesar-lhe na consciência. Em nome da dignidade do Estado.

Pobre Estado, a que estado chegou.

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