resistir é uma forma de combater

Miguel Queirós Pinto, http://olhares.sapo.pt
Por Baptista-Bastos

João Vieira Lopes, presidente da Confederação do Comércio, diz que falar com a troika não vale nada. É pelo menos estranho que só agora ele se tenha dado conta da inutilidade das reuniões. Vieira Lopes é "um homem que veio da luta" (como se dizia ainda não há muito tempo), caldeado em convicções de que, depois abandonou, mudando de carril. Isto para salientar a sua particular experiência política. O que esta gente da troika, com a aquiescência governamental e patronal, nos tem feito é de bradar aos céus. O movimento opinativo sobre os malefícios da troika avolumou-se nos últimos tempos, exactamente quando o trio se prepara para abandonar Portugal. Assistimos, tão impávidos quanto a nossa moleza de espírito o permite, às decisões mais atrozes que uns funcionários do capitalismo europeu nos aplicaram, por ordem dos bancos e das grandes multinacionais. Passos Coelho, sempre ele, observava o agonizar da pátria, asseverando que não havia outro caminho senão o do empobrecimento da população. A voz do dono, sem protestos nem recalcitrações. Fomos considerados, por esses serventuários de segunda ordem, "bons alunos", tementes a Deus e a tudo o que não entendíamos. Temos pago um preço caríssimo por essa obediência cega, mandada por uma clique de biltres, e encomendada por esse poder sem rosto que se oculta nos "mercados", a ganância sem regras nem ética de que fala o Papa Francisco.

Porém, a situação é irreversível e a nossa servidão não tem cura nem remédio? Não é bem assim. O direito à insurreição e à desobediência está patente na Constituição da República Portuguesa, nobre documento sobre o qual nos devíamos debruçar e estudar, para nossa própria dignidade e salvação. Eis o que diz o artigo 21.º, sem omissões ou rasuras: "Todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias, e repelir pela força qualquer agressão, quando não seja possível recorrer à autoridade pública."

Nada mais claro. Acontece um porém: as pessoas desconhecem que estão protegidas pela lei, quando a lei é estropiada pelos poderes momentâneos. O Vieira Lopes, infelizmente, só agora percebeu que as ilegalidades accionadas pela troika, e apoiadas, entusiasticamente, pelo Governo, além de inúteis, configuram aspectos de agressão, que tem, obviamente, resposta adequada e legítima. Apenas as pessoas não o sabem. Ora, este cultivo da ignorância, em favor de interesses cavilosos, possui características de alta traição. Os funcionários da troika vêm com um receituário apenas destinado a salvar o capitalismo desta nova crise. Aplicam-no, indiscriminadamente, à Grécia, a Portugal, a quem esteja de chapéu estendido. Nada sabem da história dos países por onde passam, das características dos povos que vão esmifrar, das desgraças inomináveis que irão provocar, com atroz indiferença. Mas os Governos que os sustentam sabem muito bem a dimensão da tragédia. Por isso, a responsabilidade é maior e mais propensa a cair nas malhas da justiça.

Temos de reagir ao cerco que nos esmaga, da maneira que pensemos melhor. E recordo as últimas declarações de Marinho e Pinto, no excelente programa "Justiça Cega", da RTP, quando, ao citar o artigo 21.º da Constituição, apela à nossa resistência contra as iniquidades que em nós impunemente tem praticado este Governo, e outros.

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