elegia fúnebre a um governo de mortos-vivos


O governo quer poupar 100 milhões de euros entre 25.000 pessoas que recebem pensão de sobrevivência. Se as contas não me falham, isto dá uma média de 4.000 euros por cabeça. Por outras palavras, haverá 25.000 idosos que, de repente, irão ficar com menos 4.000 euros, mais coisa, menos coisa, no seu rendimento mensal. 

Claro que sou a favor de que sejam os mais ricos a pagar a crise. Mas duvido muito que seja realmente este o alvo certo e a medida mais justa, tanto mais que se trata de devolver o dinheiro, e apenas uma parte dele, que já tinha sido entregue ao Estado.

Entretanto, as fundações persistem, a frota automóvel do governo é digna de um reino das arábias, as PPP's continuam incólumes, os grandes escritórios de advogados continuam a esmifrar o erário público, a corrupção alastra, as off-shores somam e seguem, os clubes de futebol não pagam ao fisco nem à Segurança Social, o governo beneficia os compradores e os caloteiros do BPN, as reformas de banqueiros e outros magnates atingem valores obscenos, os bancos continuam a ser poupados à destruição geral, por aqui me fico mas muito mais haveria a acrescentar.

O fosso entre ricos e pobres não pára de aumentar. A frase "os ricos estão cada vez mais ricos, os pobres cada vez mais pobres" não é chavão, uma frase feita. É uma evidência que os números, e variadíssimos relatórios, comprovam. 

Perseguir-se quem tem pensões superiores a 2000 euros, para além dos cortes que já sofreram, é mais um contributo para que essa desigualdade se acentue, ao contrário do que Portas quer fazer crer. Trata-se de nivelar por baixo. Os "remediados", como o vice primeiro lhes chamou a fazer lembrar a linguagem de antigamente, passam a pobres. Os pobres descem à categoria de muito pobres (por muito que o governo diga que os protege, cortou a muitos o IRS, forçou a redução de salários, gerou desemprego, subiu taxas de IVA, aumentou o preço dos transportes). Aos muito ricos, por sua vez, a crise não lhes chega nem à mesa nem à bolsa. Mas esses, claro, têm perdão. Ao contrário de nós, nunca viveram acima das suas possibilidades.

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