quem?

Por Luís M. Jorge

Temos aprendido muito sobre a natureza humana nestes anos.

Sabemos que é possível retirar todos os meses dez por cento de seiscentos euros a um reformado sem que isso perturbe a paz social.

Sabemos que se podem condenar trinta mil professores de uma só vez ao desemprego e financiar escolas privadas com recursos colectivos perante o torpor de quem paga impostos.

Sabemos que é viável reduzir mais de metade do ordenado a um funcionário público invocando critérios vagos, talvez razões políticas, e ainda assim merecer a cortesia dos líderes de opinião.

Sabemos que resulta trocar palavras como “despedir” e “espoliar” por eufemismos como “requalificar” ou “racionalizar”, sem clamor nem resistência das elites.

Sabemos que alguns dos nossos melhores, aqueles que nas universidades, nas colunas de jornais defenderam a democracia e a justiça, aceitam ser flores da lapela de quem nos expôs a toda esta casta de indignidades.

Oiço os comentadores e maravilho-me com a organização serena das suas intervenções: os imperativos de Estado, o deve e o haver dos orçamentos, as puras mentiras ou meias verdades que hoje contaminam toda a linguagem do poder.

E só consigo pensar que estão doentes; que a ausência total de empatia, a obstinação com que esventram milhões de vidas (quantos desempregados, quantos pensionistas?) deve ter propriedades psicóticas, atravessando décadas de maldade e ressentimento.

Não imagino de que buraco insalubre veio esta gente.

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