a puta da caridade


Desculpem lá o palavreado, mas o caso não é para menos. Vivi a minha infância e adolescência entre a pobreza, sei o que isso é, conheço o significado exacto da palavra caridade, uma bucha, um caldo, um tostãozinho, e eis umas quantas consciências apaziguadas enquanto a miséria grassa, humilha, mata. O governo, pela mão do ministro Mota Soares, tentou baixar o subsídio de desemprego, no entender dessa gente uma esmola, no meu entender um direito. Enquanto isso, promove o desvio de dinheiros públicos para instituições de solidariedade social, anunciando com orgulho que as cantinas (a sopa dos pobres) vão crescer em todo o País, por diligência do seu ministério que, claro, não quer ninguém a passar fome.

Embora não renegue a importância e o mérito dessas instituições, e as boas intenções e bom coração dos que nelas trabalham, não perdoo a Mota Soares nem ao seu chefe Coelho a vilania, mais esta entre tantas.

Um país que se preze não deveria precisar de cantinas sociais, de caridade. Num país que se preze, e não é o caso de Portugal, lugar de cada vez pior reputação e triste vivência, o Estado privilegia a criação de emprego e de riqueza para que ninguém, absolutamente ninguém, tenha que viver de esmolas.

Não aceito, não posso aceitar, que se reduzam pensões e subsídios - aos quais, repito, as pessoas têm direito porque para eles contribuíram tantas vezes uma vida inteira - e, ao mesmo tempo, se desvie esse mesmo dinheiro para instituições de caridade. A caridade que nenhum ser humano deveria precisar, mas de instrução, de educação, para que possa desbravar o seu próprio caminho para uma vida com dignidade.

Imagem: http://wehavekaosinthegarden.blogspot.pt

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