a piada do ano: "portugal não é um país corrupto"

Por Tiago Mesquita

A procuradora Cândida Almeida de vez em quando dá uns ares da sua graça. E desta feita até teria graça, não fosse o assunto sério. A última espécie de declaração que a senhora proferiu foi em plena Universidade de Verão do PSD (apropriado, nos tempos que correm). Afirmou peremptoriamente que "o nosso país não é um país corrupto , os nossos políticos não são políticos corruptos, os nossos dirigentes não são dirigentes corruptos. Portugal não é um país corrupto."

Ora bem, a primeira coisa a fazer é procurar num índice de países atualizado se existe por aí mais algum Portugal que não este que habitamos, tirando obviamente a senhora procuradora, que vive claramente noutro território, bem mais recomendável do que o nosso. Não existindo outro país de nome Portugal que possa justificar estas declarações efusivas temos de procurar outra explicação lógica para a coisa.

Quanto a mim, a única forma de entender um discurso deste género, para além do que me parece óbvio - a senhora procuradora estar a fazer-se ao cargo de Procurador Geral da República deixado a arrefecer recentemente por Pinto Monteiro - é concluir que de facto a senhora tem toda a razão. Toda. E nós, os tolos que achamos que a corrupção está enraizada em quase todos os sectores da sociedade, seja na banca, justiça, autarquias, alta finança, política, desporto, empresas, parcerias do Estado com privados e em quase tudo onde existam interesses e dinheiro, estamos todos enganados e somos uns perfeitos idiotas. Aliás Portugal deve ser um caso isolado no mundo contemporâneo, pelo menos aos olhos da senhora procuradora. A corrupção chega ali a Badajoz e dá meia volta para trás, com medo.

Realmente num país onde os sobreiros se suicidam, onde submarinos comprados pelo Estado são envolvidos num aparente esquema de corrupção que leva a que pessoas envolvidas no negócio sejam presas no estrangeiro mas que por cá nada se passe, no país do Freeport, das parcerias escandalosas do Estado com empresas privadas, das licenciaturas fantasma, do BPN, do BPP, onde ninguém vai preso (a não ser que roube meia dúzia de iogurtes no supermercado da esquina) mas principalmente num país onde temos procuradoras envolvidas em processos ( alguns a decorrer) que têm este tipo de discurso "português suave", pessoas que deveriam ser a face visível do combate à corrupção e que afirmam que esta pura e simplesmente não existe, ou "é residual". A pergunta que se impõe é apenas esta: para que precisamos nós de uma pessoa como Cândida Almeida ao serviço da nossa justiça? Para nada. Mas este nada deve dar imenso jeito a quem é corrupto, pois é igualmente invisível. Mas esperem lá, se ninguém é corrupto, de que raio estou para aqui a falar?

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