manifesto "para uma esquerda livre"

Portugal afunda-se, a Europa divide-se e a Esquerda assiste, atónita.

As raízes desta crise estão no desprezo do que é público, no desperdício de recursos, no desfazer do contrato social, na desregulação dos mercados, na desorientação dos governos, na desunião europeia e na degradação da democracia.

Em Portugal e na Europa, a direita domina os governos, as instituições e boa parte do debate público. A direita concerta-se com facilidade, tem uma agenda ideológica e um programa para aplicar. A direita proclama que o estado social morreu e que os direitos, a que chamam adquiridos, são para abater.

Em Portugal e na Europa, a esquerda está dividida entre a moleza e a inconsequência. Esta esquerda, às vezes tão inflexível entre si, acaba por deixar aberto o caminho à ofensiva reacionária em que agora vivemos, e à qual resistimos como podemos. Resistir, contudo, não basta.

É necessário reconstruir uma República Portuguesa digna da palavra República e construir uma União Europeia digna da palavra União.

É preciso propor aos portugueses, como aos outros europeus, um horizonte mais humano de desenvolvimento, um novo caminho para a economia e um novo pacto de justiça social.

É possível fazê-lo. Uma esquerda corajosa deve apresentar alternativas concretas e decisivas para romper com a austeridade e sair da crise, debatidas de forma aberta e em plataformas inovadoras.

A democracia pode vencer a crise. Mas a democracia precisa de nós.

Apelamos a todos aqueles e aquelas que se cansaram de esperar – que não esperem mais.

É a nós todos que cabe construir:

UMA ESQUERDA MAIS LIVRE, com práticas democráticas efetivas, sem dogmas nem cedências sistemáticas à direita, liberta das suas rivalidades, do sectarismo e do feudalismo político que a paralisa. Uma esquerda de cidadãos dispostos a trabalhar em conjunto para que o país recupere a esperança de viver numa sociedade próspera e solidária.

UM PORTUGAL MAIS IGUAL, socialmente mais justo, que respeite o direito ao trabalho condigno e combata as injustiças e desigualdades que o tornam insustentável. Um país decidido a superar a crise com uma estratégia de desenvolvimento económico e social, com uma economia que respeite as pessoas e o ambiente, numa democracia mais representativa e mais participada, com um Estado liberto dos interesses particulares que o parasitam.

UMA EUROPA MAIS FRATERNA, à altura dos ideais que a fundaram, transformada pelos seus cidadãos numa verdadeira democracia. Uma Europa apoiada na solidariedade e na coesão dos países que a formam. Uma Europa que ambicione um alto nível de desenvolvimento económico, social e ambiental. Uma União que faça do pleno emprego um objetivo central da sua política económica, que dê um presente digno aos seus cidadãos e um futuro promissor às suas gerações jovens.

Alguns dos primeiros nomes a assinar o manifesto: Alexandra Lucas Coelho (jornalista), Alfredo Barroso (ensaísta, comentador), Ana Benavente (professora universitária), Ana Gomes (diplomata, eurodeputada), André Barata (professor universitário), António Mega Ferreira (escritor), Carlos Nô (artista plástico), Daniel Oliveira (jornalista), Fernando Vendrell (realizador), Francisco Belard (jornalista), Hélder Costa (dramaturgo e encenador), Irene Pimentel (historiadora), Ivan Nunes (doutorando em estudos de cinema), Jorge Bateira (economista), José Reis (economista), José Vítor Malheiros (consultor), Manuel Frias Martins (professor universitário), Mário Barroso (realizador de cinema), Mário de Carvalho (escritor), Miguel Real (escritor, ensaísta), Miguel Vale de Almeida (antropólogo, professor universitário), Nelson de Matos (editor), Nuno Artur Silva (autor, produtor), Olga Pombo (professora universitária), Paula Gil (precária), Raquel Freire (cineasta), Rui Cardoso Martins (escritor), Rui Tavares (historiador, eurodeputado) e Rui Zink (escritor).

Para assinar o Manifesto, clique aqui.

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