à mesa do café

Por Daniel Oliveira

O otimismo de Passos Coelho, que acha que irá a eleições em 2015 e espera por esse ano mágico para baixar os impostos; o seu conselho aos professores, para que estes emigrem (e Paulo Rangel quer a coisa organizada por uma agência de exportação de portugueses); e a fé de que as nossas exportações vão aumentar porque a crise internacional vai acabar brevemente eram um bolo a precisar de uma cereja. Na sucessão de disparates que o desnorteado primeiro-ministro nos tem oferecido, veio mais uma: daqui a vinte anos as reformas vão valer metade.

Primeira dúvida: em que estudo se baseou Pedro Passos Coelho para fazer esta afirmação que, como é evidente, cria angústia em milhões de cidadãos? Não sabemos. E confesso que, do que fui lendo sobre a matéria, não encontro rigorosamente nada que autorize esta previsão. Ou seja, o primeiro-ministro de Portugal faz, com um assunto tão sério e delicado, conversa de café.

O que Passos Coelho consegue com estas infelizes declarações é fácil de imaginar: instalar o sentimento de insegurança. Um medo que pode resultar, perante tão deprimente cenário, num aumento da fuga aos descontos para a segurança social. É que o sistema vive de uma ideia simples: pagamos as reformas de hoje porque acreditamos que pagarão as nossas no futuro. Se essa confiança se quebra com umas "bocas" irresponsáveis de um primeiro-ministro o sistema fica em risco.

Vem então a segunda dúvida: o que pretende o primeiro-ministro com esta declaração? Três possibilidades. Asimples: respondeu a uma pergunta de um jornalista sem pensar nas suas consequências. A absurda: Passos Coelho não se contenta em preparar os portugueses para o pior, precisa de os deprimir para as próximas décadas. Mesmo na parte que não dependerá dele e sobre a qual não tem condições para fazer previsões à distância de duas décadas. Não é apenas incapaz de apontar para um horizonte próximo de esperança. Prepara o País para décadas de miséria. A cínica: o primeiro-ministro está apostado em instalar o medo para que todas as medidas que impõe ao País pareçam inevitáveis e até excelentes, quando comparadas com o futuro que nos espera. É provável que seja um pouco das três. E todas elas são coerentes com a sucessão de declarações estapafúrdias que tem feito.

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