o gordo é você!


Por Daniel Oliveira

Há dois anos que escrevo neste jornal* que a austeridade só acrescenta crise à crise. Que tratá-la como uma inevitabilidade é um ato de desistência. Porque ela torna qualquer sacrifício inútil. Infelizmente, as pessoas aceitaram a mentira de que o nosso problema era a dívida pública e não, como sempre foi, a dívida externa privada. Compraram a tese do "Estado gordo" que lhes foi vendida em doses cavalares de populismo mediático. Houve quem tentasse explicar que grande parte da despesa do Estado é em pensões e salários. Que para a dieta que se tem defendido, e para a qual as pessoas foram preparadas, não chega acabar com o TGV, com as SCUT, com os motoristas dos ministros ou uns quantos institutos. Acabou então o tempo das palavras. Os factos estão aí. Agora já sabem: a gordura de que se falava são vocês. São vocês e não outros que vivem, nas palavras de tantos políticos e comentadores, acima das vossas possibilidades.

Trabalha no sector privado e julga que não lhe toca? Toca e não é pouco. Porque, como também já houve quem tentasse explicar, a economia de um país não é como a economia doméstica. Quando se corta na receita de uns, os que dependem do seu consumo são os próximos a sentir a pancada. Se se poupa de mais, o dinheiro não fica guardado debaixo do colchão. Sai da economia e a dieta torna-se fatal.

A suspensão do subsídio de férias e do 13º mês dos funcionários públicos e dos reformados que recebam mais de mil euros - gente rica, portanto - não é apenas um roubo. É o enterro da nossa economia por muitos anos. Depois desta decisão todas as empresas ligadas ao comércio podem começar a preparar-se para fechar as portas. E depois delas todas as empresas que as fornecem. E quando tudo fechar, sempre quero saber onde vai o Governo sacar impostos. E como vai pôr em ordem as contas públicas. E como vamos crescer e poupar para ter liquidez e não depender do crédito externo. Não somos apenas governados por incompetentes. Esta gente é estúpida. E está a destruir o nosso futuro.

* Expresso

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