lagarde põe o dedo na ferida


Em pronunciamento na semana passada, na reunião anual do Fed, nos EUA, a diretora-geral do FMI, Christine Lagarde, exortou os governos a não permitirem que a recessão assuma o comando da economia mundial. Um novo degrau recessivo, alertou a sucessora de Strauss Kahn, arrombaria as portas do arrocho fiscal deflagrado por vários governos na ilusória esperança de reconquistar a confiança dos mercados. Lagarde foi direto ao ponto e chamou a atenção para os riscos de uma contração da atividade que pode esfarelar de vez o frágil equilíbrio entre ativos e passivos no sistema bancário europeu. A banca do euro precisa ser recapitalizada, insistiu Lagarde. Esse é o novo motor da crise.Caminha-se no fio da navalha. Nos próximos três anos, segundo o Financial Times, a banca da UE terá que obter fundos da ordem de 4 trilhões de euros para garantir a liquidez de suas carteiras. A perspectva desse encontro com a hora da verdade move a fuga de fundos de investimentos que tem reduzido sua exposição na zona do euro elevando o custo de rolagem de passivos de bancos e governos. Falta coordenação e estratégia para deter esse processo. E essa é uma dimensão da crise sistemica: ela dissolve e anula as próprias instituições ordenadoras da hegemonia financeira na atual etapa do capitalismo. Repete-se na dinâmica da crise global a mesma lógica que move facções armadas em Trípoli: uma atomização sem referencia coletiva, nem lastro de acomodação institucional. Nesse salve-se quem puder errático e selvagem, alguns países dificilmente escaparão de um imprevisto. A dívida do setor privado espanhol, por exemplo, mediada pelos bancos, equivale a devastadores 170% do PIB. Mas os bancos alemães, ao contrário da responsabilidade que Angela Merkel arrota e cobra das instituiçoes de outros países, também se lambuzaram gulosamente na farra especulativa que antecedeu a crise. Nada menos do que 30% de suas carteiras estavam comprometidas com financiamentos -a juros suculentos-- à Grécia, Espanha, Portugal, Irlanda e Itália. A derrocada desse dominó teve igualmente o dedo oportunista das instituições germânicas: em poucos meses, sua exposição a esses países caiu dos 30% para 15% da carteira total, empurrando-os para a lista de condenados de Merkel.

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