quanto mais me bates, mais eu gosto de ti



Eis um vídeo a roçar o patrioteiro mas que, mesmo assim, vale a pena ver. Sabe bem relembrar. A nossa história, os nossos feitos, as nossas marcas no mundo. Para quê chorar o império perdido se já provámos, até à saciedade, que não conseguimos sequer tomar conta do pequeno rectângulo que nos alberga? E a prova é que, mal ou bem, a troika coligiu, em 3 semanas, mais coisa menos coisa, uma série de medidas que, se planeadas pelos nossos políticos, levariam 1 ano a anunciar e 50 a concretizar. E é fácil prová-lo: há mais de 35 anos que fazemos e desfazemos leis, que caiem governos e governos tomam posse, e tudo isto para quê? Nem uma medida de reestruturação séria, necessária, corajosa, seguiu em frente. Primeiro pensa-se em ganhar eleições, depois em manter o poleiro durante a legislatura, depois fazer umas promessas eleitoralistas para amanteigar o papalvo. E nunca acontece nada. E nunca lhes exigimos contas. Pelas promessas que não cumprem. Pelas dívidas que contraem. Pelos amigalhaços que promovem. Pelas empreitadas que adjudicam em prejuízo do Estado. Pela corrupção que nunca quiseram travar. Pelos gatunos que nunca quiseram incriminar.

Tal como Martin Luther King, também eu tenho um sonho. Ter um país finalmente liberto das amarras da política, trapaceira e incompetente, com que temos sido fustigados. E ter à frente dos destinos deste país gente determinada em levar por diante, doa a quem doer, as iniciativas necessárias para nos libertar de dívidas e podermos voltar a viver sem o fantasma da bancarrota, o estigma da pobreza, a vergonha da inépcia.

Não as medidas do FMI, ou a maior parte delas, medidas cegas de contenção da despesa, de venda do país a retalho, de destruição do Estado solidário e de assalto, redobrado, ao bolso de quem menos ganha.

Anteontem, durante a conferência de imprensa da troika, senti-me humilhado (e é curioso como pouca gente fala disso). Três senhores, estrangeiros, trataram-nos com sobranceria, deram-nos ordens, ameaçaram-nos com o corte de ajudas se não fossemos meninos bem comportados. Só faltou a menina-dos-cinco-olhos e, por detrás deles, na parede, um crucifixo e o retrato de um seráfico Salazar que, na tumba de Santa Comba, deve estar a repetir, em jeito de ladainha e no seu timbre de prior cansado, aprés moi le déluge, aprés moi le déluge, aprés moi le déluge.

No meio disto tudo, era Sócrates quem devia ter mais vergonha na cara, pois foi durante a sua governação que estendemos a mão à caridade. Sócrates que finge que nada é com ele, que se vitimiza, que manipula a opinião pública, que encena autênticas peças de teatro onde é dramaturgo, cenógrafo, coreógrafo e actor, canastrão por tal sinal, um truão pouco credível. Sócrates que diz hoje isto e amanhã aquilo, sendo que isto e aquilo são tantas vezes contraditórios, outras tantas inconciliáveis, quase sempre antagónicos. Sócrates, o palhaço rico desse circo de pobres-diabos amestrados em que se transformou o Partido Socialista, que vai de mau a pior com o beneplácito, a cumplicidade de uma população, pelos vistos, dada ao masoquismo. 

Os portugueses vão votar a 5 de Junho. Por incrível que pareça, parece que vão votar nos mesmos, os que conduziram Portugal ao desemprego, à precariedade, ao novo-riquismo de alguns e à nova-pobreza de milhares ou, se isto não muda depressa, de milhões. Quanto mais me bates, mais eu gosto de ti. Deve ser isso.

E nem a Presidência escapa neste lodaçal de mediocridade, de imbecilidade em que estamos atolados. Um primeiro-ministro com mandatos marcados por obras de fachada e auto-estradas quase inúteis, de desmantelamento de grande parte do nosso aparelho produtivo, é alcandorado, até hoje não percebi bem nem como nem porquê, porque mérito não lho reconheço e carisma não lho lobrigo, ao lugar cimeiro da nação onde a sua inutilidade é provada e comprovada a cada dia que passa. Um ou outro recado envenenado para os seus inimigos políticos, uma visita aqui, uma inauguração acolá, umas reuniões, e são estes os deveres de lealdade e mérito com que a criatura jurou cumprir, e fazer cumprir, a missão que lhe foi confiada.

O dia 5 de Junho devia ser proposto como o Dia do Castigo Nacional.  Mas também esse é um sonho. O mais certo é que vá ter outro pesadelo. 

Comentários

Anónimo disse…
Como os que muito provavelmente vão para o poleiro são os mesmos, o dinheiro que aí vem é para desbaratar como até aqui, encher a mula aos de sempre (aah, como o engº estava contente...) e aos seus novos amigos de conluio (obrigados, coitadinhos, a aceitar a fatia, que agora também é a vez deles). Não vai ser para o bem comum, não vai ser para preparar um futuro, já que os restantes cidadãos vão ficar ocupados a pagar a dívida e os juros imorais aos da "ajuda externa". E com chicote e ameaças: não piem, bolinha baixa, senão tudo será pior. E no final, estaremos todos na mesma: rotos, doentes, estúpidos e sem dignidade. SS

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