golpe de estado iminente


O golpe de Estado dos assaltantes
Daniel Oliveira (www.expresso.pt)

Lendo as informações avançadas este fim-de-semana pelo "Expresso" percebe-se que a troika prepara um autêntico golpe de Estado neste País. Não se limitará a exigir, em troca do empréstimo, condições que garantam o seu pagamento - a juros que estarão longe de ser justos. Em troca, determina mudanças políticas e económicas estruturais, muitas delas de constitucionalidade mais do que duvidosa. Entre algumas das que se prevêem estará, além de alterações em setores fundamentais para a soberania de qualquer País, a privatização de grande parte das empresas públicas. Objetivo? Dois: "menor intervenção do Estado na economia" e criação de um fundo para a recapitalização da banca privada nacional.

Esta será apenas uma das muitas medidas que aí vêm. Mas ela é um excelente exemplo do que está em causa.

Antes de mais, a imposição de uma agenda ideológica à margem da democracia. As correntes radicais impõem as suas receitas - as mesmas que levaram o mundo ocidental a uma enorme crise financeira - usando instituições sem a legitimidade do voto e torneando a democracia. Aqueles que aplaudem estas medidas nunca se devem esquecer disto mesmo: venceram contra a democracia. Poderão impôr o seu ponto de vista mas ele não tem a força moral da legitimidade democrática. O modelo social que garantiu meio século de paz, de prosperidade e de uma igualdade sem precedentes na Europa será destruído através da suspensão de todas as regras democráticas. Não é através do voto do povo que lá chegarão.

Esta medida, como outras, deixará claro o objetivo destas intervenções em países em crise: transferir recursos do Estado para um setor financeiro descapitalizado pelos seus próprios erros. Parte das receitas da privatização (em saldo) do património público terá como destinatária a banca privada nacional. Depois de obrigarem os contribuintes a salvar com dinheiros públicos bancos geridos por criminosos, depois de obrigarem os Estados a pagar juros usurários, a última parte do assalto será feita mais às claras e imposta por quem ninguém elegeu. 

Fica provado o que já se suspeitava: o capitalismo financeiro com rédea solta é incompatível com a democracia. A ganância sem limites derruba todos os obstáculos que encontra pela frente. E o último é este: o poder dos cidadãos e do seu voto.

Corremos muitos riscos se resistimos a este golpe de Estado e a este assalto? Sim. Mas o que está em causa é quase tudo o que realmente interessa: se estamos dispostos a entregar aos assaltantes tudo o que temos, incluindo a nossa democracia, ou se vamos, independentemente de todos os perigos, resistir.

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