os reis escandalosos: pedro I, o castrador

Reinado: 1357-1367


Poderia o amante de Inês de Castro, e protagonista de um dos mais extraordinários romances da História de Portugal, ser bissexual? É essa a explicação que Fernão Lopes insinua para explicar a brutalidade do gesto deste filho de D. Afonso IV quando castrou um seu fiel escudeiro. No relato da história do Rei D. Pedro I, escrito poucas décadas depois, o cronista dedica um capítulo ao episódio Como El-Rei mandou capar um seu escudeiro porque dormia com uma mulher casada. 



A vítima foi Afonso Madeira, descrito como um grande cavalgador, caçador, lutador e ágil acrobata. “Pelas suas qualidades, El-Rei amava-o muito e fazia-lhe generosas mercês”, escreveu, num texto citado em As Crónicas de Fernão Lopes – Em Português Moderno por António José Saraiva. Mas o escudeiro apaixonou-se pela mulher do corregedor, que se chamava Catarina Tosse e era elogiada como “briosa, louçã e muito elegante, de graciosas prendas e de boa sociedade”.



Afonso Madeira aproximou-se do corregedor, de quem se fez amigo, para assim poder mais facilmente seduzir a sua mulher, afastando suspeitas. Conseguiu de facto consumar a traição, mas D. Pedro descobriu e não lhe perdoou. Fernão Lopes volta a referir o afecto do Monarca pelo escudeiro, usando uma expressão suspeita: “Como quer que o Rei muito amasse o escudeiro (mais do que se deve aqui dizer)...” 



Apesar deste amor, segundo o mesmo cronista, D. Pedro mandou “cortar-lhe aqueles membros que os homens em maior apreço têm”. Afonso Madeira recebeu assistência e sobreviveu, mas “engrossou nas pernas e no corpo e viveu alguns anos com o rosto engelhado e sem barba”.



Cristina Pimenta, autora de uma biografia sobre o Rei editada pelo Círculo de Leitores, destaca a forma intensa como D. Pedro punia os adúlteros e relaciona essa postura com o drama que viveu, quando se confrontou com o homicídio de Inês de Castro, a mando do seu pai. (Aliás, em 1360 perseguiu e mandou matar dois dos suspeitos implicados nesse crime e ordenou que o coração fosse arrancado a um pelo peito e a outro pelas costas.) Mas a autora desvaloriza os indícios sobre a orientação sexual do seu biografado. 



Já Fernando Bruquetas de Castro, no livro Reis que Amaram como Rainhas, cita um frade beneditino para apontar outro possível parceiro de D. Pedro (o cavaleiro Fernão de Santarém) e não hesita em defini-lo como um bissexual e um amante liberal: “Amou apaixonadamente, apressadamente, todas e todos os que com essa intenção surgiram na sua frente.”
In Revista Sábado

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